No dia do arquiteto, 15 de dezembro, a arquiteta e urbanista Karla Moroso saiu em uma reportagem especial no jornal Correio do Povo. Confira a seguir a matéria completa, feita pela repórter Mauren Xavier.

Desafios para quem cuida das cidades

Congestionamentos, falta de integração dos espaços de lazer e ocupações irregulares. Se fosse possível comparar ao corpo humano, essas seriam as doenças da cidade. E quem seriam os médicos? Os arquitetos e urbanistas. E os desafios desses profissionais, que comemoram hoje o seu dia, não são pequenos diante de cidades que estão em constantes transformações.

O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS), Roberto Py, destaca que houve um aumento da valorização e reconhecimento dos profissionais e da sua atuação. “Houve um crescimento dos problemas urbanos e eles exigem soluções, aumento assim as nossas responsabilidades”, enfatiza.

Um exemplo que está presente no dia a dia é a questão da mobilidade. Há o entendimento de que a melhor alternativa para amenizar os congestionamentos é o investimento em transportes públicos de qualidade. “Neste panorama, para incorporar os conceitos, elaborar projetos e tornar a cidade melhor”, resume o presidente do CAU/RS.

Gestores públicos buscam soluções pontuais e não efetivas, avalia o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS), Tiago Holzmann da Silva. Para ele, cada governante quer resolver os problemas apenas na sua gestão. “E na prática, são situações que exigem muito mais tempo. Poderíamos contribuir muito mais para o desenvolvimento das cidades e na compreensão de que o planejamento precisa ser de longo prazo”, diz.

Um projeto para solucionar um problema específico poderá resultar em outros problemas a longo prazo. “Há um conceito que se utiliza em que se eu engordar, não adianta trocar o furo do cinto. É preciso entender as causas para o ganho de peso e o que é possível fazer para mudar. É pensar na cidade”, simboliza a presidente do Sindicato dos Arquitetos no Estado do Rio Grande do Sul (SAERGS), Andréa dos Santos. Para ela, ainda é preciso avançar no debata sobre a atuação dos profissionais. “Todas as obras, desde as grandes, como um aeroporto, até as menores, como projetos de residências populares, têm a mesma importância. Impactam na vida da população”, afirma.

 

Trabalho ao lado do social

Há um lado mais social na arquitetura, como o trabalho de regularização fundiária de comunidades que vivem em ocupações no topo do morro Santa Teresa, em Porto Alegre. Aliás, é do alto que se tem uma das imagens que melhor configuram a dualidade das cidades: de um lado as construções ordenadas e, no outro, as ocupações populares, agrupadas da maneira possível.

Com 12 anos de formação, a arquiteta Karla Moroso vive o da a dia nas entranhas dessas comunidades. Integrante do processo de regularização, ela ressalta que nesses locais a arquitetura tem mais desafios do que soluções. “Muitas vezes o trabalho é construir ou projetar algo numa folha em branco ou num terreno vazio. Aqui, a lógica é oposta. Temos que adaptar o que existe para conseguir integrá-la com a cidade”, explica.

Um desses trabalhos é feito na comunidade União Santa Teresa. Ao lado da líder comunitária Orlei Maria da Silveira, Karla explica que as desigualdades sociais provocaram distorções nas cidades. Segundo Orlei, a comunidade criada há mais de 30 anos conta hoje com cerca de 200 casas. “No processo da busca da regularização, acabamos fazendo as coisas por conta própria, como abrir uma rua e colocar asfalto para melhor a passagem dos veículos”, explica.

A arquiteta lembra que uma intervenção nessas comunidades é bem mais complexa. “É preciso compatibilizar as necessidades ambientais, habitacionais e culturais. É preciso fazer com que haja diálogo entre o trabalho técnico e a realidade”, diz.

O projeto no Morro foi reconhecido com o prêmio Arquiteto e Urbanista do Ano de 2015 na categoria Obra, Ação ou Trabalho, recém entregue pelo SAERGS.

 

Importância da interiorização

No Rio Grande do Sul, um dos desafios é garantir a presença de profissionais de arquitetura e urbanismo na administração pública de todos os municípios. Para se ter uma dimensão da gravidade do problema, segundo o CAU/RS, mais de cem deles não tem profissionais no seu quadro de pessoal. “É uma situação delicada, uma vez que cabe aos arquitetos e urbanistas elaborar projetos e conceitos de obras fundamentais para uma cidade”, ressalta o presidente do Conselho, Roberto Py.

Dos 12 mil profissionais de arquitetura e urbanismo registrados no RS, 10 mil estão em atividade. Desse total, 55% estão presentes no Interior, e  o restante na Capital. Segundo o presidente do SAERGS, Andréa dos Santos, “há casos de municípios sem Plano Diretor porque não têm arquitetos próprios”, diz.

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